Há muitos anos a utilização de testes com exercício programado ganhou importância e destaque como método auxiliar diagnóstico e prognóstico. Considerando-se o grande desenvolvimento tecnológico das últimas décadas, a associação de novos métodos de investigação e provas de esforço definitivamente se configura como ferramenta de relevância no manejo clínico, permitindo a obtenção de informações inquestionáveis no seguimento de indivíduos portadores de doenças cardiovasculares ou de indivíduos saudáveis.
Nesse contexto, o teste cardiopulmonar, ou ergoespirométrico, destaca-se como método de importante valor agregado, por permitir a análise de variáveis clínicas, eletrocardiográficas, hemodinâmicas e respiratórias que refletem os ajustes cardiovasculares e respiratórios desencadeados pelo exercício, necessários para a manutenção do metabolismo celular adequado às demandas impostas pela atividade física.
Na área da fisiologia do exercício, são inúmeras as aplicações desse método, que obtém informações que facilitam a elaboração de um trabalho direcionado e específico, além de se prestar à caracterização e à avaliação evolutiva da aptidão física em indivíduos saudáveis e atletas que procuram aprimorar-se por meio de programas específicos de treinamento. Nesse segmento de indivíduos, o VO2 máx. e os limiares ventilatórios 1 e 2, traduzidos em termos de velocidade e frequência cardíaca, são as variáveis utilizadas na prática que permitem caracterizar a intensidade adequada de treinamento para o desenvolvimento de um programa de atividades. As figuras 1 e 2 demonstram algumas das variáveis obtidas no teste cardiopulmonar.
Dentre muitas outras aplicações clínicas desse método, podemos destacar sua utilidade para entender melhor a fisiopatologia da intolerância ao exercício e avaliar o grau de incapacidade de cardiopatas e pneumopatas para medir o resultado de intervenções terapêuticas nesses doentes e, ainda, estabelecer prognóstico, o que permite definir condutas com maior segurança.
Na avaliação de indivíduos portadores de insuficiência cardíaca, considera-se o TCP como exame complementar obrigatório. Para esses pacientes, além do consumo de oxigênio de pico e/ou máximo (VO2 máx./pico), também a relação entre o dióxido de carbono produzido e o oxigênio consumido (RQ) e a relação entre ventilação por minuto e produção de gás carbônico (VEVCO2) são fundamentais e decisivas, pois permite estabelecer prognóstico, avaliar terapêutica e orientar a indicação correta de transplantes cardíacos.
Em vista dessa gama de possibilidades de utilização da ergoespirometria, na segunda metade da década de 90, duas das mais significativas entidades mundiais da área cardiológica, o American College of Cardiology (ACC) e a American Heart Association (AHA), classificaram o que se consideram as principais indicações do teste ergoespirométrico, ou cardiopulmonar, com base em evidências da utilidade, ou efetividade, do método na obtenção de informações relevantes para a prática clínica. Na tabela 1, encontram-se a classificação proposta e as principais indicações do teste cardiopulmonar de acordo com essas duas entidades americanas.
Tabela 1 – Indicações de teste cardiopulmonar (AHA/ACC)
CLASSE
INDICAÇÃO
I
Avaliação da capacidade ao exercício e de resposta terapêutica em portadores de ICC com indicação de transplante cardíacoDiferenciação da dispneia induzida pelo exercício e de diminuição da capacidade física em cardiopatas e pneumopatasIIa
Avaliação da capacidade ao exercício quando indicado por razões médicas em pacientes que, subjetivamente, apresentam capacidade ao exercício não compatívelIIb
Avaliação de resposta à intervenção terapêutica específica em pacientes nos quais a melhora da tolerância ao exercício é o objetivo ou finalidadeDeterminação da intensidade de treinamento em programa de reabilitação cardíacaIII
Avaliação da capacidade ao exercício
Modificado de: Gibbons RJ, et al., 1997.
Em nosso meio, as II Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Teste Ergométrico indicam a realização de teste cardiopulmonar com base em graus de recomendação e níveis de evidência definidos no próprio documento. Considera-se “Grau A” a indicação classificada como “definitivamente recomendada”, “Grau B1” aquela com “evidência muito boa” e “Grau B2” a que apresenta “evidência razoável”. O nível de evidência 2 significa que há dados derivados de um número limitado de estudos, que incluíram pequeno número de pacientes, ou de análise cuidadosa de estudos ou registros observacionais. A tabela 2 mostra as indicações do estudo ergoespirométrico segundo essas diretrizes.
Tabela 2: Indicações do teste ergoespirométrico (II Diretrizes da SBC – TE)
GRAU
INDICAÇÃO
A
Seleção de pacientes para transplante cardíaco (nível 2)Identificação de mecanismos fisiopatológicos no diagnóstico diferencial de dispneia (nível 2)Avaliação da gravidade de síndrome de insuficiência cardíaca (nível 2)Prescrição de exercícios em atleta de ponta, pacientes de ICC, pneumopatias ou obesos (nível 2)Estimativa de prognóstico em pacientes portadores de IVE sintomáticos (nível 2)
B1
Avaliação de resposta a intervenções terapêuticas (nível 2)Quantificação precisa da potência aeróbia em indivíduos em programa de exercício físico (nível 2)B2
Avaliação da resposta a programas de reabilitação (nível 2)
Adaptado de: II Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia Sobre Teste Ergométrico, 2001.
Mais recentemente, a publicação de uma declaração conjunta da American Thoracic Society (ATS) e do American College of Chest Physicians (ACCP) também estabelece, tendo como base o substrato clínico apresentado pelos pacientes, as principais indicações para a realização de teste ergoespirométrico. Essas recomendações estão descritas na tabela 3.
Tabela 3 – Indicações de teste ergoespirométrico (ATS/ACCP)
INDICAÇÕES
1
Avaliação de tolerância ao exercício
2
Avaliação de intolerância ao exercício não diagnóstica
3
Avaliação de pacientes com doença cardiovascular
4
Avaliação de pacientes com doenças/sintomas respiratórios
5
Avaliação pré-operatória [cirurgias de ressecção pulmonar e cirurgias abdominais (idosos)]
6
Avaliação para prescrição de exercícios em reabilitação pulmonar
7
Avaliação de depreciação física/incapacidade
8
Avaliação para transplante de pulmão, coração e coração-pulmão
Modificado de: ATS/ACCP, 2003.
Teste cardiopulmonar
Por: Dr. Antonio Sérgio Tebexreni?