O papel do LCR na investigação das síndromes demenciais

Por: Dr. Aurélio Pimenta Dutra?


O exame de líquor faz parte da propedêutica na investigação das síndromes cognitivas atípicas, quando se suspeita de um quadro infeccioso ou inflamatório, sendo importante no diagnóstico da neurossífilis, demência associada à infecção pelo HIV, vasculites ou neoplasias e síndromes paraneoplásicas.

Nos quadros demenciais rapidamente progressivos, uma das hipóteses é a doença de Creutzfeldt-Jacob (DCJ), cujo diagnóstico é baseado no quadro clínico, achados de exames de imagem (RM) e eletroencefalograma (EEG). O liquor geralmente é normal, entretanto a proteína 14-3-3 e a enolase neurônio-específica podem ser encontradas em níveis mais elevados nos quadros clínicos de DCJ.

A proteína 14-3-3 é o marcador mais estudado, entretanto atualmente tem sido visto com cautela, em função de resultados falso-negativos associados à evolução da doença, principalmente na fase inicial ou na fase tardia. Uma vez que também que pode estar aumentada em outras doenças neurológicas, vem sendo considerara um marcador de lesão neuronal, e não como um marcador específico para DCJ.

Por sua vez, a enolase neurônio-específica (ENE) é também um marcador de lesão neuronal, mas tem menor sensibilidade em comparação com a dosagem da proteína 14-3-3, embora seja um teste mais específico, com utilidade na confirmação da suspeita diagnóstica da DCJ.

Atualmente, não há recomendação para a análise do líquor como rotina na avaliação dos quadros demenciais. Entretanto, ocorrem modificações detectáveis na doença de Alzheimer (DA) que podem auxiliar a confirmação diagnóstica.

A dosagem de Tau está aumentada de forma mais significativa na DA quando comparado com controles ou outras síndromes demenciais. A dosagem de A?42 (fração da proteína beta-amiloide) está reduzida nos quadros de DA em comparação com controles. A análise associada dessas proteínas mostrou uma boa sensibilidade e especificidade no diagnóstico da DA, mas a confirmação é baseada no diagnóstico clínico, e não patológico, o que altera a precisão desses métodos. Entretanto, os estudos atuais buscam confirmar o valor dessas proteínas como marcadores de quadros pré-clínicos de DA, o que permitiria diferenciar os indivíduos com declínio cognitivo leve que irão evoluir para a doença de Alzheimer.

Assim, o líquor pode contribuir no diagnóstico das síndromes demenciais atípicas e de rápida evolução e provavelmente tenha algum valor nos quadros demenciais típicos ou em estágios pré-clínicos das demências.

Fonte: http://www.fleury.com.br/

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