Cintilografia de perfusão miocárdica
Nos últimos 30 anos, a Medicina Nuclear na área cardiológica evoluiu muito. Novos radiofármacos, novos protocolos, novos equipamentos, novos softwares e, principalmente, novas aplicações na prática clínica, com particular destaque para a cintilografia de perfusão miocárdica (CPM), por ser uma técnica que permite avaliar a perfusão miocárdica de acordo com o território de irrigação coronariana.
A CPM é importante por sugerir não apenas a presença de áreas miocárdicas com menor perfusão, possivelmente decorrentes de obstruções coronarianas, mas, sobretudo, por informar a magnitude (intensidade e extensão) da área acometida, o que muito auxilia o processo de decisão clínica.
Se considerarmos especificamente a doença arterial coronariana, as indicações formais da CPM incluem as finalidades diagnósticas (síndromes coronarianas agudas e crônicas), a estratificação de risco de eventos cardiovasculares e, portanto, o auxílio à decisão terapêutica, o acompanhamento evolutivo da terapêutica escolhida e, ainda, a investigação de viabilidade miocárdica.
Os protocolos empregados estão cada vez mais abreviados e as doses de radiofármacos, cada vez menores, tendo-se em mente redução na exposição radioativa. Os equipamentos também estão cada vez menores e mais rápidos no sentido de levar maior conforto e agilidade à realização dos exames.
O radiofármaco (MIBI-tecnécio-99m e/ou tálio-201) é administrado em repouso e durante um estresse cardíaco, que pode ser físico (teste ergométrico) ou farmacológico (dipiridamol, adenosina ou dobutamina).
Quando o indivíduo tem perfusão normal, as imagens basais e após o estresse mostram concentração homogênea do radiofármaco em ambas as fases. Nos casos de obstruções significativas nas artérias coronárias, a perfusão é normal nas imagens de repouso e diminuída nas imagens de estresse, na projeção do território irrigado por aquela artéria.
Além da análise visual qualitativa, o exame traz informações semiquantitativas com a finalidade de estimar a magnitude da área isquêmica, o que é de grande valor na decisão da estratégia terapêutica a seguir.
A cintilografia miocárdica oferece, ainda, informações sobre a função ventricular esquerda, tamanho da cavidade ventricular e possível presença de radiofármaco nos pulmões. Já é conhecido que indivíduos com fração de ejeção do ventrículo esquerdo reduzida, dilatação da cavidade ventricular e captação pulmonar têm pior prognóstico.
Quando essas alterações estão presentes apenas na fase de esforço, ou seja, queda da fração de ejeção e/ou dilatação transitória da cavidade ventricular na fase de estresse, os pacientes podem ser portadores de doença coronariana multiarterial ou de obstrução no tronco da coronária esquerda, mesmo se a perfusão for normal ou pouco alterada.
Indicações formais da CPM
- Diagnóstico diferencial de dor torácica quando apenas o eletrocardiograma e a dosagem dos marcadores séricos não permite conclusão
- Diagnóstico de doença arterial coronariana em pacientes considerados de probabilidade intermediária por discordância entre a clínica e a prova funcional, ou seja, com teste ergométrico positivo e sem sintomas ou sinais indicativos de isquemia miocárdica; em indivíduos que possuem eletrocardiograma não interpretável (BRE, ritmos de pré-excitação, ritmo de marca-passo, hipertrofia ventricular esquerda, etc.) ou diante de sintomas questionáveis e teste ergométrico inconclusivo
- Investigação de indivíduos com alto risco ocupacional (piloto de avião, por exemplo) ou impossibilitados de realizar teste ergométrico eficaz por limitações osteoarticulares, vasculares periféricas, uso de medicações que impeçam a elevação da frequência cardíaca ou baixa capacidade funcional
- Avaliação da repercussão funcional de lesões anatômicas conhecidas
- Avaliação prognóstica e estratificação de risco pré-cirúrgico (principalmente para cirurgias vasculares)
- Avaliação após revascularização percutânea e cirúrgica
- Monitorização terapêutica e avaliação da eficácia de tratamento clínico
- Auxílio ao diagnóstico diferencial das miocardiopatias (isquêmicas ou não isquêmicas)
- Investigação de viabilidade miocárdica
Contraindicações da CPM
O exame não deve ser realizado em mulheres grávidas ou que estejam no período de aleitamento. É necessário considerar também as contraindicações associadas ao teste ergométrico (por exemplo, estenose aórtica importante, ICC descompensada e pacientes instáveis), ao dipiridamol e à adenosina (broncoespasmo, estenose de carótidas graves e/ou bilaterais e bloqueio AV avançado) e à dobutamina (hipertensão grave, arritmias complexas e estenose aórtica importante).
Outros exames disponíveis na área de Medicina Nuclear em Cardiologia
- Cintilografia cardíaca com gálio-67 para investigar processos inflamatórios
- Ventriculografia radioisotópica, que oferece informações sobre a função do VE, sendo considerada um método de excelente acurácia e, portanto, de grande valor para estudos seriados, como é o caso de avaliação da função do VE após tratamento oncológico e, ainda, de grande valor quando há discordância nos parâmetros da função do VE, entre outros métodos
- Cintilografia cardíaca com MIBG-iodo-123 para avaliação prognóstica de miocardiopatias. Também pode ser usada para localizar feocromocitoma
- PET/CT cardíaca para investigação de viabilidade miocárdica. Por ser o único método a informar de forma direta o metabolismo cardíaco, pode ser considerado o padrão-ouro para o estudo da viabilidade miocárdica
Fonte: http://www.fleury.com.br/
Medicina Nuclear em Cardiologia
Por: Dra. Paola Smanio, Dr. Marco Antonio Conde de Oliveira e Dr. Carlos Alberto Buchpiguel??