A biópsia renal é também importante no acompanhamento de pacientes transplantados do rim, sendo a ferramenta mais precisa no diagnóstico de rejeição celular ou humoral, necrose tubular aguda, nefrotoxicidade a fármacos ou desenvolvimento de glomerulonefrite recidivante no enxerto. Mesmo em estágios avançados de doença renal, a biópsia pode fornecer pistas sobre a possibilidade de recorrência da doença após o transplante, se indicado.
Por ser aplicada na investigação de doenças complexas e graves, é fundamental que a execução da biópsia seja otimizada para garantir condições seguras para o procedimento, objetivando o melhor diagnóstico e qualidade do material colhido, não cabendo a exposição desnecessária do paciente a riscos. Para isso, utiliza-se a ultra-sonografia como método de imagem para orientar o procedimento, assim como um processamento técnico diferenciado que permita a análise tríplice do material, isto é, por microscopia óptica (MO), imunofluorescência (IMF) e microscopia eletrônica (ME). É necessário, portanto, dispor dos fixadores adequados para cada método ao planejar-se uma biópsia renal, como meio de transporte de Michel (para IMF), glutaraldeido a 2% (para ME) e formaldeido aquoso a 10% , tamponado (para MO).
O diagnóstico das patologias renais investigadas através da biópsia percutânea deve envolver equipe médica especializada. O médico patologista deve ter conhecimento profundo não apenas em nefropatologia, mas também em clínica médica, especialmente nefrologia, capaz assim de integrar os achados histológicos com as informações clínicas e laboratoriais disponíveis, para poder oferecer o melhor diagnóstico possível. Da mesma forma é necessário profissional médico experiente no procedimento e manuseio da biópsia para a obtenção de amostra satisfatória de forma segura e eficiente, especialmente com representação suficiente do córtex renal e seus glomérulos. Quando feita de forma criteriosa, tal biópsia é um método seguro e eficaz no diagnóstico de diversas afecções renais.
Sobre o procedimento da biópsia renal
Previamente à biópsia renal convocamos o paciente para uma entrevista, onde é explicado todo procedimento, além de serem avaliados os exames laboratoriais (hemograma e coagulograma), exames de imagem anteriores, bem como feita a investigação de eventuais condições clínicas que contra-indiquem o procedimento (rim primitivo único, coagulopatias, hipertensão arterial de difícil controle e sinais de infecção, dentre outras).
Para adultos e pacientes colaborativos o procedimento é realizado apenas com anestesia local. Nos pacientes pediátricos e/ou não colaborativos o exame pode ser realizado sob sedação, que no nosso serviço é feita pela equipe de médicos anestesistas.
Iniciamos o exame com uma ultra-sonografia dos rins e vias urinárias, seguida por demarcação do melhor local para punção do órgão, onde é realizada anestesia local. A biópsia é feita sob orientação direta da imagem ultra-sonográfica, visando a colocação da agulha em local adequado e seguro para a coleta de melhor material possível, com retirada de dois a três fragmentos, em média.
Posteriormente à biópsia, o paciente permanece em repouso e observação por cerca de oito a dez horas, e são monitorados dados relacionados à dor, diurese e parâmetros hemodinâmicos. Nova avaliação clínica e ultra-sonográfica é realizada ao final desse período, sendo o paciente liberado com orientação específica se não apresentar nenhuma complicação importante.
As complicações que podem ocorrer em decorrência do procedimento representam 6 a 12% dos casos, segundo a literatura internacional, sendo dor local e hematúria (4,5 a 7%) as mais freqüentes. Os hematomas perinefréticos de volume significativo ocorrem em apenas 1 a 2% dos casos, tendo, na maioria das vezes, tratamento conservador. A mortalidade relacionada ao procedimento tem incidência de 0,12 a 0,20%, envolvendo os riscos dos procedimentos de biópsia e anestésico.
Sobre a imunofluorescência direta do rim (IMFRIM)
A imuno
fluorescência direta in situ das biópsias renais é exame muitas vezes indispensável para complementar o diagnóstico histológico das glomerulopatias. Ela é feita por método imunoistoquímico fluorescente para detecção de depósitos de imunoglobulinas, cadeias leves, frações do complemento e proteínas séricas no tecido renal em estudo. As imunoglobulinas testadas de rotina são IgA, IgG, IgM, frações do complemento C1q e C3c, fibrinogênio, albumina e cadeias leves Kappa e Lambda da imunoglobulina. As principais glomerulopatias cursam com depósitos renais de uma ou mais das moléculas citadas acima.
Sobre a microscopia eletrônica
A Microscopia Eletrônica de Transmissão (ME) destina-se ao auxílio diagnóstico em tecido humano obtido por biópsia, sendo freqüentemente usada na patologia renal, muscular, intestinal, hepática e oncológica, com destaque nas desordens pediátricas. Trata-se de ferramenta adicional para esclarecimento diagnóstico em alguns casos em que a histologia convencional e seus métodos complementares, como a imunoistoquímica, não foram capazes de concluir definitivamente. Como se trata de casos de enorme complexidade, é indispensável o contato entre o médico do paciente e o patologista que fará a análise ultra-estrutural. Abaixo seguem alguns exemplos comuns da sua aplicação em nefropatologia:
Glomerulopatias fibrilares
Doença de depósitos densos
Nefropatias congênitas e metabólicas (síndrome de Alport, nefropatia por membrana fina, doença de Fabry, doença de Gaucher e síndrome de Nail Patela).
Fonte: http://www.fleury.com.br/